
Edward Burne Jones - O último sono de Arthur
A INSÔNIA DE LADY MACBETH
(Herética)
A H.W.
Vejo-te dormir como quem olha um precipício:
Meu rosto perplexo sobre teu rosto, suspensa máscara,
E olhos vidrados no encalço do futuro que volteia nas tuas
[pálpebras;
[pálpebras;
Busco pela noite da indefinição dos teus traços
Sombra seguida de luz esbranquiçada que se infiltra da janela.
Espantado, no entressonho, uma floresta inteira, de olmos e
[ciprestes,
[ciprestes,
Erguida em teus olhos, repentinos, quando se abrem
Para outro sonho que é a brancura debruçada que te mascara.
Mas a madrugada é minha e meu é o sortilégio,
O veneno, o fruto e os anfíbios saltando pelas coxas
Pantanosas onde se vê, submersa,
A potente pata de um cavalo,
Grumos e troncos envelhecidos.
Descubro em meu pulso o cheiro doce de flor
Que envelhece com a espessura da carne;
E o calor que tem a densidade rugosa da lama quando é dia
E as aves quando fazem estardalhaço no celeiro.
Bruto e exausto, dormindo em vida,
Exalação noturna de um jardim botânico envidraçado,
Carótida cedendo a qualquer faca, impunemente;
Lanças teu desafio a cada noite e amanheces, paterno,
Ajeitando o lençol sobre a nudez chamuscada do meu corpo.
John Collier - Lilith