terça-feira, 30 de setembro de 2008

Aos Amigos e aos que por aqui aparecem

Ando quase sem tempo para novas postagens ou para responder a todos, mas sempre leio as mensagens que deixam.
Agradecendo sempre o carinho dos que por aqui passam,
um abraço a todos e prometo voltar a postar em breve!
Fabrícia Miranda

Margo Woode como Phyllis 
no NoirSomewhere in the Night de 1946


domingo, 3 de agosto de 2008

CONSIDERAÇÕES A RESPEITO DO PERDER-SE - Ritos de Espelho 11


Teus medos açoitam minha noite
de uivos
e sobre meu corpo caminham
cães vadios.
Onde eu estive por tanto tempo
entre loucos e buscas
murmurando nomes inaudíveis
à espera do que me esperava?
Vieram tuas mãos de fragatas
arrastando sombras
e salamandras
e em tua boca – frágua – de engolir serpentes
uma ferida sibilava.
Teu nome me chamou até o último eco
E eu não dormi por muitas noites.


Ismael Nery


Poema do livro Ritos de Espelho, 2002

sábado, 19 de abril de 2008

POEMA CONVULSIVO - Ritos de Espelho 10


Essa noite é de romances bizarros
Guardo uma navalha no bolso
para o caso de um flagelo


Por trás do meu rosto um medo
e por trás do medo um rosto.

Hoje estou excepcionalmente bela
com olhos de rímel e lágrimas
e cabeleira desgrenhada

E agora, de tão tarde, conto apenas comigo
para falar de mim mesma.




Ray Caesar, New Blue

Poema do livro Ritos de Espelho, 2002

INTEGRANTES DO CORO ou do puro aço inoxidável baiano: Ronaldo Braga



BEIJANDO O FIO-DE-NAVALHA
para graciela malagrida e fabrícia miranda


Eu quero o beijo da madrugada
Cantado,
em cortes, por mariposas perversas
e o corpo esquálido
da mais feia morte.

Eu quero a denegação
em mim mesmo
dos sopros suaves na agonia do nascer.

Eu quero o verde-podre
e para sempre me perder
nos sulcos,
e em teu sexo.

E em noites e dias e esperas
eu sou o nada contemplado
nos teus olhos violetas.

Há assim
em mim
a TUA morte.

E a beleza
tua,
apenas uma ofensa
nas turbulentas festas de Baco.



Ronaldo Braga


A morte de Orpheu - Emile Levy

domingo, 24 de fevereiro de 2008

AOS GUARDADORES DE SEGREDOS - Ritos de Espelho 09

klimt, bosque de bétulas, 1912



AOS GUARDADORES DE SEGREDOS
(Desiderandum)



Busco amores violentos
quando já estou cansada
de amar e violentar-me.
Em mim,
sombras repartidas.
É noite?
eu pergunto
E já não sei
Porque há muito já não sabia
...
Posso ausentar-me de mim
Ter frio, ter febre, ter fúria...
...
Essa vontade anêmica
De invadir jardins descalça
E tocar fogo no que for inflamável.


klimt, Veritas

Poema do livro Ritos de Espelho, 2002

sábado, 23 de fevereiro de 2008

ADÁGIO DE RESPOSTA - Ritos de Espelho 08

Camille Claudel - a valsa


ADÁGIO DE RESPOSTA
(para um ensaio poético sobre o Adágio de Tomaso Albinoni)




Pensei sobre os dias que se foram
e em toda poeira em meus cabelos
em toda finura das coisas cortantes
fio de navalha
por onde seguiam as horas
que me lançavam
ao abismo
dos seus braços abertos.
Os silêncios são ocos e graves
E os cheiros que refaço
Queimam como tóxico.


poema do livro Ritos de Espelho, 2002

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

UM POEMA INACABADO - Ritos de Espelho 07


Entre nós, vultos submersos
Se buscam em movimentos espectrais
Sombras que choram mortes prováveis
em apartamentos labirínticos
Demônios que sepultam nos corpos,
amores primitivos.
Então ruímos no tempo
A cada gozo, a cada estrondo de dor
a cada morte dos anos
Cantamos o lirismo dos loucos
Tombamos no riso dos ébrios
Compomos juntos os últimos cigarros
Traçamos a arquitetura do inabitável.


poema do livro Ritos de Espelho, 2002



Ismael Nery, Composição surrealista

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Sobre os comentários recebidos pela publicação de "A valsa dos meus vestidos"

Eu agradeço muito por seu texto, Thiago, sobre um suposto poder que teriam, os meus versos, de ressignificar as vidas de quem me lê. Um carinho que me deixa mesmo feliz e eu tento deixar que apenas a moça Fulana se emocione e explore suas próprias emoções neste blog, mas aí acho que estaria seguindo os planos de minha amiga bela Renata Belmonte, mas, é mesmo impossível, quando o material é feito das mais descabidas confissões, é mesmo impossível não criar uma espécie de máscara, uma personalidade qualquer que trabalhe uma emoção ou uma vida que é apenas minha, mas dela faça outra coisa (e aqui já entra a fala perspicaz do Ronaldo sobre os meus textos)... E isso já existe desde Ritos de Espelho. Há uma outra criatura, minha sombra talvez, que manipula os materiais que encontra dispersos nessa bagunça bem esquisita de ser alguém, de ser mulher, de ter 20 e tantos anos, de ser tantas expectativas, de ser cada coisa que amigos, desafetos e desconhecidos enxergam como uma figura real, e que não é menos real que ter nascido menina, numa manhã de quinta-feira, primeiro de março, no subúrbio do Rio de Janeiro, em pleno calor, gordura e vidinha "marromenos"... É minha vida, mas já é uma outra coisa que eu nem mesmo vivi, que já é completamente diferente e aí já é Fulana quem toca, quem experimenta, quem forja, quem manipula, quem joga ... e foi o Drummond quem me ofereceu esse meu Golem, essa Fulana, saída de uma ópera ou de um teatro barroco, que a tudo exagera e devora e rasga... Conversas sobre escritas, aparições, encontros e farsas que sempre tenho com Renata Belmonte e Vanessa Buffone, e concordamos que nunca sabemos o que foi verdade e o que foi só mais um embuste dessa coisa estranha de se existir num corpo único e numa única história que se diversifica em versões tão contrárias, como numa sala de espelhos ou numa casa de palavras...
E Fulana diz mistérios,
diz marxismos, rimmel, gás.
Fulana me bombardeia,
no entanto sequer me vê.
..
E sequer nos compreendemos.
..
Mas Fulana será gente?
Estará somente em ópera?
Será figura de livro?
Será bicho? Saberei?
..
Fulana às vezes existe demais;
até me apavora.
Vou sozinho pela rua,
eis que Fulana me roça.
..
Olho: não tem mais Fulana.
Povo se rindo de mim.
..
Fulana é toda dinâmica,
tem um motor na barriga.
..
Fulana, como é sadia!
Os enfermos somos nós.
..
(O Mito, Carlos Drummond de Andrade)





Eu só tenho a agradecer aos que lêem o que mostro por aqui.



Inaê Sodré no recital Fêmeas, Teatro Sesi, 2007
foto: Wagner (Pyter)


domingo, 10 de fevereiro de 2008

A MUTAÇÃO DA BORBOLETA - Ritos de Espelho 06



Armou-se um cerco em minha vida.
Quem enganará os guardiões das horas mortas?
No regaço, trago girassóis frescos
e nos lábios, feridas de amores tortos e favos.
É tarde para esperar batidas surdas na porta ou
uma pedra lançada com doçura à janela,
um bilhete tímido pela fresta.
Mas há quem espere, paciente,
um olhar (meu) de ostra que bate nos pés,
denúncia de fogo e flor miúda.
Dou a minha mão secreta
e o amor me dá asas de borboleta
                                         irrequieta.






poema do livro Ritos de Espelho, 2002

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A VALSA DOS MEUS VESTIDOS - Poema 06



A VALSA DOS MEUS VESTIDOS
Medéia: a noiva premonitória



Eu já não sou a que suspende os vestidos
e já nem sei se os tenho alinhados
para as minhas bodas.

...
Não quero mais sair de tua casa
e plantei um girassol onde o vento é mais ameno.
Meus pressentimentos murcharam no seco dos teus lamentos
e a fruta que guardava
escondida no côncavo das mãos.

De mim, fiz o que querias
Mas veio junto outra parte daquilo que juntei entre os dedos.
Por isso, tenho esse jeito de olhar adiante do que existe.

Passei o meu tempo a fiar anjos que te protejam
nas canções que aprendi com minha avó
e com todas as noivas que vieram antes dela.
...
Eu já não sou a que suspende os vestidos
e já nem sei se ainda os tenho alinhados
para as minhas bodas.


Klimt - Esperança II 1807-08


terça-feira, 8 de janeiro de 2008

TEMPLÁRIOS - poema 05


Caminhei neste fim de noite
como (uma) morta sem melancolia;
apenas eu, a ferida aberta de tua cama,
a que soluçava pelo socorro da palma da mão de Deus.
E eu adorando teu nome, vinda de tantos tormentos
de mãos cansadas estendidas de derrubar dinastias,
adorando teu nome, como um segredo divino.
E eu, pomba-rapina, aprendi o silêncio
que teus olhos impunham.
Calei de mim o que havia sido minha alma
Para deitar em teu corpo minha pele.
Suspensa, sem Deus, vestida de todas as chaves
para as quais não há nenhuma porta
esperei a pão e água por cada rasgo de suas mãos na minha alma;
e a cada instante, me era revelado um teu novo e último nome.




vertumnus e pomona - camille claudel, 1905

domingo, 6 de janeiro de 2008

LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO - Ritos de Espelho 05


                                                                                 Ismael Nery, s/título
Me desfiz
Deixando para os amanhãs
as melhores escolhas.
Já quase não existo
sem minhas palavras,
que me lembram sempre
do que esqueci de dizer;
pensando saber todos os segredos
fingindo possuir todas as chaves.
Coube em cada greta
e habitei em segurança
os espaços incabíveis.
Tomei para mim alguns riscos
entre quinhentas mil alternativas,
e teci meia dúzia de razões incoerentes.
A surdos dei minhas mais belas frases.
E a loucos meus argumentos.



poema do livro Ritos de Espelho, 2002




Galo e sol do amanhecer, Marcio Melo, 2005

Palavras para saudar 2008
Um bom ano para todos!!



CADAFALSO PARA OUTRA DIMENSÃO - poema ritos de espelho 04




Sento na escada como mímico, mudo
O saxofonista escarna minha cara
Meu Deus! Tenho um rosto! Grave e rouco
Essa soltura negra recorta meu dia;
A masmorra é de luz!
Na boca o gosto estala elétrico
Trago a fuligem do asfalto
A cidade nos dá enfisema!
Quero digerir essa feiúra distorcida
porque sofro de úlcera bélica.
(- Quanta beleza me morde!)
A Big Apple é carioca!


O metrô desce à laringe
Meu sapato se prende no trilho
e a morte é veloz e esquizofrênica do jeito que quero.





Poema do livro Ritos de Espelho, 2002



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