terça-feira, 26 de junho de 2012

SE SOU POETA - (poema dedicado)


John Waterhouse

SE SOU POETA

à Fabrícia Miranda
Com que paixão vejo o desenho de seu corpo
onde seu corpo já não dorme e permanece
na depressão do sono extinto e do conforto
amanhecido sob o sol, verão sem pressa.

Com que paixão o espreguiçar eu logo ouço
e não há nada além das faces numa réstia
que me desperta para o bem de um tempo outro,
mas que me acorda e é todo o sonho que me resta.

Quero dormir e não consigo, é tarde ainda.
Somente a noite me conduz ao que nos finda
- e eu sei que a vida jamais vive a vida em vão.

Se sou poeta, é porque sonho minha musa
e reconheço, em carne viva, uma difusa
ausência agora... um pobre, enfim, com que paixão!


Henrique Wagner

John Waterhouse


Obs. do autor: Este soneto não é feito de alexandrinos, mas de de dodecassílabos. São metros distintos entre si. No alexandrino é obrigatório haver uma cesura na sexta tônica, com regras envolvendo a tonicidade das palavras e suas vogais finais. Como o primeiro verso me chegou à cabeça com três tônicas obrigatórias sem cesura (na quarta sílaba, na oitava e na décima segunda), decidi não mexer e fazer o resto do soneto com esse metro, essa cadência. E as rimas são deliberadamente toantes nos quartetos, e consoantes nos tercetos, porque penso que nos tercetos tudo deve soar como um gran finale mesmo.
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