terça-feira, 30 de novembro de 2010

A FÉ DOS PUROS - poema 11


Klimt - O friso Beethoven


A FÉ DOS PUROS

Lá onde estão os humanos
empilhei pedras e areia
consolidei montanhas, cavernas
e caminhos sinuosos.
Estendi minha escuridão antiga à
minha escuridão futura.
Encantei serpentes,
pus a dormir em sacos
alimentei-as com maçãs e mel.
Com clareza de voz,
li evangelhos sobre almas
menores que rostos,
e semblantes magros e profundos
que são seus próprios espíritos.
E muitos foram os que me seguiram
entre gigantes, amantes vingados,
mulheres e seus sobressaltos.
E adentramos a infinita solidão
dos que recebem as incumbências de um mundo
que não nos são ditas
entre as sarças na paisagem de nossos sonhos.
No milagre difícil,
de um silêncio do haver sem respostas,
amamos humanamente
o Deus sem qualquer promessa,
perdoamos nossas mágoas e medos,
repreendemos a grande tentação
de aguardar o infalível socorro.
E assim, estendidos à escuridão
do grande céu do ermo distante,
somos os primeiros a enxergar,
pacíficos e sem surpresas,
a semelhança.


sexta-feira, 19 de novembro de 2010

VINTE COLCHÕES SOBRE A ERVILHA - poema 10

VINTE COLCHÕES SOBRE A ERVILHA

Certo príncipe, por mais que procurasse, não encontrava esposa
adequada, entre as muitas princesas do mundo. Numa noite de
tempestade,uma moça foi bater à porta do palácio para pedir
abrigo. Disse que era filha de um rei. (H. C. Andersen.)


É que já não posso dizer, retorno hoje à minha antiga morada
depois da imensidão humana de teu corpo;
Conhecidos arrazoados de apaixonados
cheios de um já não poder isso e aquilo.
O amor revelando incompetências dos que são muito
                                                             [temperamentais
quase sempre. O meu nome em oito letras. O seu nome 
                                                                              [obscuro,
mito preservado terrível ao longo dos anos – o anjo marmóreo
                                                                              [dos quintais
noturnos, sequestros que inventei antes da clara celebração,
para o gozo exato da princesa mais bela.
Sobrepostos, nos igualamos no meio – acima de nós, minha
                                                                                   [agudeza.
Aqui, minha ansiedade e a tua parecem apenas firmar os pés
                                                                  [da cama sobre o chão
E tudo o mais, esse amor, sem qualquer destreza para cálculos
                                                                              [e engenhos
cobre de estantes as paredes onde tudo é provisório,
Alheada de nós está a casa que nos espera e que prometemos
                                                                                      [ser.
Deito minha cabeça sobre teu ombro,
como faz uma leve criança adormecida.

Ismael Nery - O encontro

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