terça-feira, 22 de janeiro de 2008

A VALSA DOS MEUS VESTIDOS - Poema 06



A VALSA DOS MEUS VESTIDOS
Medéia: a noiva premonitória



Eu já não sou a que suspende os vestidos
e já nem sei se os tenho alinhados
para as minhas bodas.

...
Não quero mais sair de tua casa
e plantei um girassol onde o vento é mais ameno.
Meus pressentimentos murcharam no seco dos teus lamentos
e a fruta que guardava
escondida no côncavo das mãos.

De mim, fiz o que querias
Mas veio junto outra parte daquilo que juntei entre os dedos.
Por isso, tenho esse jeito de olhar adiante do que existe.

Passei o meu tempo a fiar anjos que te protejam
nas canções que aprendi com minha avó
e com todas as noivas que vieram antes dela.
...
Eu já não sou a que suspende os vestidos
e já nem sei se ainda os tenho alinhados
para as minhas bodas.


Klimt - Esperança II 1807-08


terça-feira, 8 de janeiro de 2008

TEMPLÁRIOS - poema 05


Caminhei neste fim de noite
como (uma) morta sem melancolia;
apenas eu, a ferida aberta de tua cama,
a que soluçava pelo socorro da palma da mão de Deus.
E eu adorando teu nome, vinda de tantos tormentos
de mãos cansadas estendidas de derrubar dinastias,
adorando teu nome, como um segredo divino.
E eu, pomba-rapina, aprendi o silêncio
que teus olhos impunham.
Calei de mim o que havia sido minha alma
Para deitar em teu corpo minha pele.
Suspensa, sem Deus, vestida de todas as chaves
para as quais não há nenhuma porta
esperei a pão e água por cada rasgo de suas mãos na minha alma;
e a cada instante, me era revelado um teu novo e último nome.




vertumnus e pomona - camille claudel, 1905

domingo, 6 de janeiro de 2008

LESÃO POR ESFORÇO REPETITIVO - Ritos de Espelho 05


                                                                                 Ismael Nery, s/título
Me desfiz
Deixando para os amanhãs
as melhores escolhas.
Já quase não existo
sem minhas palavras,
que me lembram sempre
do que esqueci de dizer;
pensando saber todos os segredos
fingindo possuir todas as chaves.
Coube em cada greta
e habitei em segurança
os espaços incabíveis.
Tomei para mim alguns riscos
entre quinhentas mil alternativas,
e teci meia dúzia de razões incoerentes.
A surdos dei minhas mais belas frases.
E a loucos meus argumentos.



poema do livro Ritos de Espelho, 2002




Galo e sol do amanhecer, Marcio Melo, 2005

Palavras para saudar 2008
Um bom ano para todos!!



CADAFALSO PARA OUTRA DIMENSÃO - poema ritos de espelho 04




Sento na escada como mímico, mudo
O saxofonista escarna minha cara
Meu Deus! Tenho um rosto! Grave e rouco
Essa soltura negra recorta meu dia;
A masmorra é de luz!
Na boca o gosto estala elétrico
Trago a fuligem do asfalto
A cidade nos dá enfisema!
Quero digerir essa feiúra distorcida
porque sofro de úlcera bélica.
(- Quanta beleza me morde!)
A Big Apple é carioca!


O metrô desce à laringe
Meu sapato se prende no trilho
e a morte é veloz e esquizofrênica do jeito que quero.





Poema do livro Ritos de Espelho, 2002



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