terça-feira, 6 de novembro de 2007

NOIVA DIANTE DO ESPELHO (Vilanias) - poema 04


NOIVA DIANTE DO ESPELHO
vilanias

Quantas vezes, eu, para ser as muitas que carrego,
Me feri com versos e lâminas
E só tive em meus dedos, ao final,
Manchas de luz, tédio e sangue.
Por que, tantas vezes, cores pardas voltam a forçar meus olhos
E lendas e seus descréditos
Florescem entre as paredes concretas do meu quarto?
E preciso sempre sair, mesmo que por acaso,
Quando o telefone toca
Trazendo vozes dispersas e convites de amores
que não me despertam qualquer vontade.
Cruezas de um corpo que não punge,
tentativas de um gozo que não virá.
Resoluta imperatriz de afetos baratos!
Uma devota sem santos de apego
das promessas de nascedouros dos filhos que não vingam.
Hoje, apenas hoje, a náusea de qualquer toque.
De maquiagem suspensa no rosto e pileque
Faço a toilette das núpcias de meu corpo ausente
E me dou aos pernoites – caloteira, cadela, farsante.



Gustav Klimt, A noiva, 1918


2 comentários:

Álvaro Andrade disse...

É seu, né? Muito bonito. Parece-me atual por demais esse eu-lírico. Até mais do que percebem.

Bjo,

Álvaro Andrade.

Agnes disse...

Acabo de descobri-la! e gostei muito do que lí!

bjo

Agnes

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