O CISNE
Entre o quarto e o mito de toda valsa calma e noturna,
O cisne branco ainda resiste à morte, de asas escarpadas
Estendidas por sobre as paredes, e a carne tenra de sua
[mágica sombra espalhada.
[mágica sombra espalhada.
Feliz e líquida é a varanda até a balaustrada envelhecida,
O apartamento levíssimo que não resiste e segue, fantasmático
[suspense,
[suspense,
Sonda palmilhando o vão para trás deixado, quando todos
[mudaram,
[mudaram,
Adultos e desfeitos, e um pequeno espectro que lhes servia de
[filha acalentada.
[filha acalentada.
“Apenas eu morro” – dissera a criança ao que se movia na
[casa, e era o dia chegado,
[casa, e era o dia chegado,
E quando desceram as escadas, adultos e desfeitos, já eram
[aquilo que antes tinham sido.
[aquilo que antes tinham sido.
Restara o cisne intenso pousado sendo vestígio
De dois corpos galgos em longa fadiga de um depois sempre
[constante,
[constante,
E o tempo aberto que errara ao ser antes, pois há sempre as
[coisas que se chamam desperdício,
[coisas que se chamam desperdício,
Restando também a casa por inteiro desistida.
Resta agora a pequeníssima cabeça adunca
Formada, pluma por pluma, da ternura e graça
De dois travesseiros ladeados
E de um raro toucador sob os singelos pertences de louça e
[prata;
[prata;
Resta o cancro rosado sob os olhinhos duros de um viúvo,
Restam miúdos os injustos dedos de dinossauro no assoalho,
[tilintando por toda a casa;
[tilintando por toda a casa;
Corredores, quarto e salas de sancas adornadas,
E a varanda tornada líquida, serena, e o denso e amplo vazio e
[silêncio
[silêncio
Do havido eco de amor humano dos dias com as noites no
[encalço,
[encalço,
Puro restante do feliz eterno inseparável.
